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Mentes roubadas

#descriçãodaimagem Arte a partir de vetor da silhueta de uma cabeça humana gigante, centralizada e estruturada a partir do chão. Uma mulher segura uma comprida chave de ouro. Num dos degraus da escada que se apoia na lateral da face de perfil, a personagem se mantém na altura que a permite localizar e apontar o dedo para um dourado buraco de fechadura. O orifício se destaca no meio da cor escura que, do alto da cabeça até a base do pescoço, cobre toda a superfície. Fundo branco.

Fonte: Pixabay.

Foto de Sabiá-Laranjeira pousado em uma cerca de metal com concertinas em torno.

Em 2023, os poemas da categoria
Sabiá-Laranjeira|Christina Maria
passam a ser publicados semanalmente,
via ação Trocando as letras:
quem tirou o “i” do “fejão”
e botou no “arroiz”?

Mentes roubadas

Eu abri minha mente. Abri todas as portas internas em mim trancadas, desde os tempos remotos da minha existência. Visitando os porões empoeirados do meu passado, mofados e impregnados de ideias fundamentalistas, rememorei meus vividos adormecidos. Caminhei por campos minados repletos de hipocrisias, regados pelas mentiras que nos contam e contam a si mesmos, na tentativa de enfrentarem suas próprias covardias.

Tropecei nos muitos direitos meus a mim negados; e nos sonhos que sonhei um dia, esquecidos no acumulado do tempo. Me deparei com olhares caóticos que me perseguiram a ponto de me sabotarem incontáveis boas escolhas. Esbarrei em inúmeras mentes que se alimentam da liberdade do outro. Depois, calcei os sapatos que não eram meus.

Pisei em preconceitos diferentes daqueles sobre os quais precisei sapatear. Calçada com os sapatos alheios, senti dores agora latentes em mim. Precisei reparar bem de perto e sentir na minha pele a dor indigna que projetam nos que esbarram em preconceitos. Nesse contexto amargo e sangrento, não está pequena a fração do tempo perdido por nós e por nossos ancestrais.

Agora eu tenho as chaves que tanto procurei para me libertar. Encontrei-as por meio do aprendizado, do conhecer sobre, do observar com os meus próprios olhos para saber agir num consenso lógico. Foi então que divaguei até o terraço da minha mente e vislumbrei horizontes cristalinos, onde compassam vidas coerentes. Vidas sistólicas e diastólicas. Quando desencabecei os engodos e me situei liberta das práticas autoritárias, pude perceber belezas autênticas e a sutileza que as envolve. Pus os pés na estrada.

Levo comigo a liberdade. Penso o amor e me sinto à vontade. Pelo caminho, me libertei da aflição, do medo e da angústia que me consumiam. Da incerteza, nem me lembro mais. Não mais carrego o fardo de não saber quem sou. Sigo por caminhos abertos e libertos. E diante das mentiras em que um dia acreditei, só acato as verdades que me abriram os olhos para apagar os enganos.

Eu resgatei minha minha mente.

[…] Cuidado com a coisa coisando por aí/
A coisa coisa sempre e também coisa por aqui/
Sequestra o seu resgate, envenena sua atenção/
É verbo e substantivo/adjetivo e palavrão/
E o carinha do rádio não quer calar a boca/
E quer o meu dinheiro e as minhas opiniões/
Ora, se você quiser se divertir/ Invente suas próprias canções […].

Da canção “Marcianos invadem a terra”, composta e cantada por Renato Russo, da banda Legião Urbana.

Escolha da arte de capa, #descriçãodaimagem e edições para postagem: por Christina Maria (autora da narrativa poética), Maria do Socorro, Virginia, Olga, Cecília, Carolina e Marcela.

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