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Balança do tempo

#descriçãodaimagem Arte que retrata um senhor em primeiro plano. Do canto direito para o centro da tela, com o auxílio de uma bengala, o idoso percorre uma ponte. Ele adentra uma paisagem que, em camadas, traz a a copa larga de uma cinzenta árvore sem folhas, a sombra circular de um relógio e um céu alaranjado pelo crepúsculo.

Fonte: Pixabay

Foto em formato redondo de um Sabiá-Laranjeira.
Em 2023, os poemas da categoria
Sabiá-Laranjeira|Christina Maria
passam a ser publicados semanalmente,
via ação Trocando as letras:
quem tirou o “i” do “fejão”
e botou no “arroiz”?

Balança do tempo

Foi em uma manhã qualquer. Eu observava a serra através da janela, quando algo me buscou a atenção: uma bela jovem que acompanhava um senhor bem idoso. Oitenta, noventa anos… imaginei. Com os braços entrelaçados, seguiam a passinhar pela calçada.

Naquele momento, os dois pararam embaixo da minha janela para um breve descanso. Percebi a jovem menina um tanto aflita.

-Vô, o senhor precisa caminhar um pouco mais rápido. Sabe que hoje o meu tempo está curto. Precisamos voltar para casa o mais breve possível!

Ela olhou para o avô e, curvando-se, carinhosamente, beijou-o na face .

-Querida, o tempo sempre vai para voltar no momento seguinte. Sequer percebemos como passa pelos nossos dias.

-Desculpa, Vô, não quero cansar o senhor. Serei mais paciente.

-Vamos, querida, vamos!

Atentamente, observei os dois até sumirem na virada da esquina. A parceria da paciência do idoso com a agitação da menina me abriu para uma importante reflexão.

Quanto tempo corrido na correria da vida pra alcançar esse momento em que, sem quase nenhuma escolha, usaremos a paciência pra ver o tempo passar…

Meu olhar se perdeu ao longe, lá no topo da serra. Me perdi em pensamentos por uma fração de tempo. Fechei meus olhos para reviver uma cena vivida por mim em minha juventude: braços dados com o meu pai que, ainda no princípio da meia idade, caminhava devagar, já com o auxílio de uma bengala.

Hoje ele estaria com 94 anos. O tempo parou muito cedo para ele. Partiu há quase cinco décadas, bem antes da chegada do primeiro neto, meu filho.

Aprendi muito com a vida (que já me fez avó). Sigo mais paciente. Com o tempo que, pouco a pouco, passa e me subtrai muito me empenho no acumulado dos meus dias.

Sei que dessa frágil equação, na qual somamos o tempo que fragiliza a vida, nos restará seguir em frente, recordar e divagar, na medida do possível.

Agora compreendo que, para a balança do tempo, não existem dois pesos e duas medidas.

■■[…]Ando devagar porque já tive pressa/
E levo esse sorriso/
Porque já chorei demais/
Cada um de nós compõe a sua história/
Cada ser em si/
Carrega o dom de ser capaz/
E ser feliz▪︎▪︎▪︎

Da canção “Tocando em frente”, composta e cantada por Almir Sater
e Renato Teixeira.

Escolha da arte de capa, #descriçãodaimagem e edições para postagem: por Christina Maria, Maria do Socorro, Virginia, Olga, Cecília, Carolina e Marcela.

■■Acompanhe-nos nas redes sociais do @coletivohojeapassarinho e até a próxima!▪︎▪︎▪︎

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